DE OLHO NA LÍNGUA- Dicas de português do Professo Antonio da Costa de Sobral-CE- Material de domingo, 02/07/2017



Estudo sobre as funções do pronome “se”

A construção reflexiva teve um destino importante em nossa língua; a evolução do reflexivo --- passivo --- indeterminador foi tratada pelo filólogo cearense Martins de Aguiar.


1º) CASO: Pronome reflexivo - A Função Inicial e própria do pronome “se” é como em Latim, a de reflexivo, isto é: faz refletir sobre o sujeito a ação que ele mesmo praticou. Ex.: O homem cortou-se. Indica, pois, ao mesmo tempo, atividade e passividade. O homem cortou, mas foi cortado, pois a si próprio é que cortou. Se penetrarmos bem na inteligência das diversas frases reflexivas, veremos que a passividade chama mais a nossa atenção, impressiona mais a nossa sensibilidade do que atividade. Quando temos notícia de que “alguém se suicidou”, o primeiro quadro que se nos apresenta ao espírito é o do indivíduo pálido, inerte, sem vida. Daí poder o pronome “se” vIr a funcionar como:


2º CASO: Pronome apassivador - É o segundo estádio de evolução. Sendo pronome reflexivo, o pronome indica, como vimos, atividade e passividade, e esta nos impressiona mais do que aquela, pelo que pode chegar a ser índice de passividade. Exs.: Vendem-se casas. Fritam-se ovos.


3º CASO: Pronome indeterminador do agente - Como no segundo caso, o agente nunca foi expresso em linguagem comum, tendo-se tornado obsoleto o seu emprego até na linguagem literária. O pronome “se” acabou por assumir a função de indeterminador do agente. Exs.: Estuda-se; dança-se.


4º CASO: Pronome indeterminador do sujeito de verbos intransitivos – Como, no terceiro caso, não se dá objeto aos verbos, apesar de transitivos, e como o agente oculto, se presente, seria o sujeito, o pronome “se” pode vir a indeterminar o sujeito de verbos intransitivos. Exs.: dorme-se; acorda-se.


OBSERVAÇÕES: O terceiro e o quarto casos são idênticos na prática; mas, no terreno científico é imprescindível separá-los, pois servem para demonstrar, à luz da linguística psicológica, a contagião sucessiva das funções do pronome. Os mesmos casos matam de vez a questão chinesa de saber se o pronome “se” pode ou não pode ser sujeito. “Não o é nunca”, não pelas razões dados nas gramáticas, mas porque assim o demonstra o estudo da sua evolução.

(*) Professor Antônio da Costa é graduado em Letras Plenas, com Especialização em Língua Portuguesa e Literatura, na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). É, também, servidor do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Sobral. Contatos: (088) 9762-2542.
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