Ticker

6/recent/ticker-posts

Ad Code

EUA serão os maiores produtores de petróleo do mundo, diz relatório

Imagem da extração de gás e petróleo
em um campo da Califórnia, nos Estados Unidos

Até o ano 2017, aproximadamente, os Estados Unidos vão superar a Arábia Saudita na posição de maior produtor mundial de petróleo – e vão se tornar exportadores líquidos de petróleo até 2030, de acordo com um relatório divulgado na última segunda-feira (12) pela Agência Internacional de Energia (AIE).
Esse aumento da produção de petróleo norte-americana, combinado com as novas políticas dos EUA para melhorar sua eficiência energética, significa que os país vai se tornar “quase autossuficiente” para suprir suas necessidades energéticas dentro de cerca de duas décadas – uma “drástica reversão da tendência” observada na maior parte dos países mais desenvolvidos, diz o relatório.
“Os fundamentos dos sistemas globais de energia estão mudando”, disse em entrevista, antes do lançamento do documento, Fatih Birol, economista-chefe da AIE. A agência está sediada em Paris e produz o relatório anual World Energy Outlook (Perspectiva sobre a Energia Mundial).
A AIE, que assessora os países industrializados em questões energéticas, havia previsto anteriormente que a Arábia Saudita seria a maior produtora mundial de energia até 2035.
O relatório também prevê que a demanda mundial por energia saltará de 35% para 46% entre 2010 e 2035 caso as políticas que têm sido propostas sejam realmente postas em prática. A maior parte desse crescimento virá da China, da Índia e do Oriente Médio, onde a classe consumidora está crescendo rapidamente.
Segundo o relatório, as consequências desse cenário terão um “potencial de longo alcance” para os mercados comerciais e de energia de todo o mundo.
Birol observou, por exemplo, que o petróleo do Oriente Médio, que costumava ter como destino os EUA, provavelmente será redirecionado para a China. O carvão extraído nos EUA, que tem enfrentado uma queda na demanda em seu mercado de origem, já está sendo redirecionado para a Europa e a China.
Há vários componentes impulsionando essa mudança repentina no fornecimento de energia em todo o mundo, mas o principal motor desse novo cenário é o ressurgimento da produção de petróleo e gás dos EUA, especialmente após a liberação de novas reservas de xisto, de onde podem ser extraídos petróleo e gás. A adoção generalizada de técnicas como o fraturamento hidráulico e a perfuração horizontal tornaram essas reservas muito mais acessíveis e, no caso do gás natural, resultaram em um excesso de oferta que fizeram os preços despencar.
O relatório prevê que os Estados Unidos ultrapassarão a Rússia como o principal produtor mundial de gás natural em 2015.
As fortes declarações e previsões específicas feitas pela agência de energia dão um novo peso às tendências que têm se tornado cada vez mais evidentes nos últimos 12 meses.
“Essas conclusões surpreendentes confirmam uma série de projeções recentes”, disse Michael Levi, pesquisador sênior para energia e meio ambiente do Conselho de Relações Exteriores dos EUA.
Formada em 1974 por um grupo de países importadores de petróleo – incluindo os Estados Unidos – após a crise do petróleo, a Agência Internacional de Energia monitora e analisa as tendências globais relacionadas à energia para garantir um fornecimento seguro e sustentável.
Levi disse que o relatório da AIE é, no geral, uma “boa notícia” para os Estados Unidos, pois destaca as novas fontes de energia do país. Mas ele advertiu que ser autossuficiente não significa que o país conseguirá se distanciar das oscilação dos preços da energia, uma vez que os preços do petróleo são definidos pelos mercados mundiais.
“Poderemos ficar um pouco menos vulneráveis a choques de preços, poderemos ficar um pouco mais protegidos. Mas não teremos a independência energética que algumas pessoas afirmam”, disse ele.
Além disso, observou Levi, a previsão da AIE em relação à autossuficiência norte-americana pressupõe que o país avançará com as medidas destinadas a otimizar a eficiência no consumo de gasolina dos carros e a reduzir o consumo de energia de residências e eletrodomésticos.
“A oferta e a demanda, juntas, resultaram nessa conclusão surpreendente”, disse Levi.
Birol disse que a previsão da AIE relacionada ao avanço da autossuficiência energética dos EUA é composta por duas variáveis: 55% desse aumento estão relacionados à maior produção de petróleo e 45% refletem a melhoria da eficiência energética nos EUA, principalmente aquela vinculada às novas normas para a economia de combustível pelos automóveis adotadas pelo governo Obama. Birol acrescentou que políticas ainda mais rígidas para promover a eficiência energética se fazem necessárias nos EUA e em muitos outros países.
O relatório afirma que vários outros fatores também podem ter um grande impacto sobre os mercados mundiais de energia ao longo dos próximos anos. Entre esses fatores estão a recuperação da indústria petrolífera do Iraque, que levaria a um novo fluxo de oferta, e a decisão de alguns países, especialmente da Alemanha e do Japão, de suspender o uso de energia nuclear após o desastre de Fukushima.
As novas fontes de energia vão ajudar a economia dos EUA, disse Birol, pois fornecerão um fluxo de energia barata e constante em relação ao restante do mundo. A AIE estima que os preços da energia elétrica ficarão aproximadamente 50% mais baixos nos Estados Unidos do que na Europa, em grande parte devido ao aumento do número de estações geradoras movidas a gás natural barato, o que ajudará as indústrias e os consumidores dos EUA.
Mas, para o planeta, a mensagem que fica é mais séria, se considerarmos as mudanças climáticas. Embora o gás natural seja frequentemente elogiado por gerar em emissões de carbono relativamente baixas em relação ao petróleo ou ao carvão, o novo mercado global de energia pode dificultar ainda mais a prevenção do aquecimento global – que pode alcançar níveis perigosos.
A redução da dependência de carvão dos EUA só vai significar que o carvão passará a ser utilizado em outros lugares, diz o relatório. E o uso de carvão, que atualmente é o combustível mais sujo disponível no mercado, continua aumentando em outros países. A demanda por carvão da China atingirá seu pico por volta de 2020 e, em seguida, ficará estável até 2035, prevê o relatório. Em 2025, a Índia vai superar os Estados Unidos como a segunda maior usuária de carvão do mundo.
O relatório recomenda que não utilizemos mais de um terço das reservas comprovadas de combustíveis fósseis até 2050 para restringir o aquecimento global a 2 graus Celsius, como recomendam muitos cientistas.
Tal restrição é extremamente improvável – a menos que seja firmado um tratado internacional de adesão obrigatória até 2017, que obrigaria os países a limitar o crescimento de suas emissões, afirmou Birol. Ele acrescentou que o avanço de tecnologias para captar e armazenar dióxido de carbono também será crucial.
“O relatório confirma que, considerando-se as políticas atuais, vamos ultrapassar em muito todas as metas seguras para as emissões”, disse Levi. “Isso deve acabar com a ideia de que o boom do gás natural vai nos salvar dessa situação”.
Tradutor: Cláudia Gonçalves

Postar um comentário

0 Comentários

Ad Code

Responsive Advertisement