Rose usou e-mail oficial para pedir dinheiro


Como chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha usou o e-mail oficial do governo para cobrar dinheiro da quadrilha acusada pela Polícia Federal de vender pareceres em órgãos federais.

Com autorização da Justiça, a PF apreendeu computadores com e-mails de Rosemary. A polícia também interceptou e-mails trocados entre ela e Paulo Vieira, da Agência Nacional de Águas.

Em um dos e-mails, de 9 de maio às 9h23, Rosemary cobra dinheiro de Vieira. O título do e-mail é "verba flat reforma" e ele foi enviado do endereço rosemary@planalto.gov.br. Os investigadores chamam a atenção para o fato de que a assinatura do e-mail traz o cargo de chefe do Gabinete Regional da Presidência da República em São Paulo e o telefone do escritório regional presidencial.

"O Marcelo deixou comigo R$ 10, mas já gastei mais R$ 20 e preciso ressarcir o João", escreveu a então assessora. "Já comprei o material pesado, piso, torneiras, armários para o banheiro, tintas..."

Segundo ela, mesmo com a obra parada, foi necessário pagar os pedreiros para não perder a equipe. "Veja se ele pode trazer hoje alguma verba", termina a mensagem. Uma hora e meia mais tarde, ela volta a escrever, dizendo que tudo estava resolvido.

O relatório número 9 da polícia aponta "extensa troca de favores entre Paulo Rodrigues Vieira e Rosemary Nóvoa de Noronha desde o ano de 2009, que resulta em cobranças e solicitações de vantagens financeiras a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função".

Num e-mail de 10 de maio, Rosemary pergunta a Vieira se ele conhece César Borges, que seria indicado pelo aliado PR (Partido da República) para uma vice-presidência do Banco do Brasil.

Mais uma vez, a mensagem foi enviada do endereço do Planalto. "Sim, conheço o César, é um cara legal, se precisar de algo, a gente fala com ele", respondeu Vieira.
"Foi a melhor notícia da semana... Quero encontrar com ele, você consegue?", respondeu a então assessora.
Editoria de Arte/Editoria de Arte/Folhapress
VALE ESTA OPERACÃO PORTO SEGURO
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A Justiça também pediu que a PF recolhesse e-mails de duas contas pessoais e uma do PT, usada por ela.

O advogado de Rosemary disse que não se pronunciaria porque ainda não leu a íntegra do inquérito.

A Operação Porto Seguro foi deflagrada pela PF na sexta-feira. A polícia apreendeu documentos no escritório da Presidência em São Paulo e indiciou Rosemary.

Rose, como é conhecida, foi nomeada por Luiz Inácio Lula da Silva e mantida no cargo por Dilma Rousseff a pedido do ex-presidente, de quem é muito próxima.

Foi sob o mandato de Lula que Rose exerceu maior influência, inclusive com indicações de apadrinhados, caso de Paulo e Rubens Vieira, presos na operação que indiciou Rosemary por corrupção, tráfico de influência e falsidade ideológica. Essa última suspeita corresponde à obtenção de um diploma falso para seu marido.

A própria nomeação dos irmãos Vieira gerou atrito entre Rose e o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), à época chefe de gabinete de Lula. Ele era contra a condução de ambos para agências reguladoras, mas foi vencido.

Tida como servidora de temperamento difícil e cuja autoridade relativa emanava da proximidade com Lula, Rose fez vários adversários ao longo dos anos.

Segundo relatos de pessoas próximas, a mulher de Lula, Marisa Letícia, não gosta da agora ex-assessora.

Apesar disso, Rose costumava integrar a comitiva presidencial em viagens internacionais. Como a Folha mostrou ontem, entre 2007 e 2010 ela foi com Lula a 23 países, com direito a passaporte diplomático que lhe garantia vantagens no trânsito.

Com Lula fora do poder, não fez viagens com Dilma. Rose perdeu o passaporte diplomático após reportagens da Folha terem abordado a emissão desses documentos durante o governo Lula.

O ex-presidente passou a ter contato com Rose por intermédio do ex-ministro José Dirceu, com quem ela trabalhou por quase 12 anos no PT.
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