A produção familiar cresce alicerçada em cadeias produtivas desorganizadas, por isso não se desenvolve.

Elesbonense Raimundo José "Budé"
Elesbonense Raimundo José.
O Piauí desponta como uma das maiores revelações em termos de produtividade de grãos e genética avançada de seu rebanho, porém o crescimento é evidenciado sem a devida associação de desenvolvimento, haja vista que não só em nosso Estado, mas em quase que na totalidade do país o fator de desenvolvimento no setor agropecuário é desproporcional ao seu crescimento.

A agropecuária familiar foi fomentada com o propósito de dirimir as desigualdades no campo em todas suas vertentes, com a implantação de políticas agrícolas que mitigassem os efeitos da baixíssima produtividade. As atividades campestres de pequenos produtores deixaram de ter caráter de subsistência e vassalista, sendo hoje regradas em diretrizes capitalistas, sem perder de vista o contexto social, que faz desse segmento um dos mais importantes do setor primário nacional, mas que efetivamente ainda cresce sem desenvolver.

Quando da introdução das políticas públicas agrícolas, era notória a dívida social quase que impagável com o pequeno produtor, por isso que a princípio o propósito inicial era de conter a fome, e por mais que possa soar estranho a agropecuária de subsistência se apresentava como ponto de partida de um processo , que a posteriori, em parte foi retirada de cena. Em seguida foi introduzida uma proposta mais ousada, outros programas e projetos foram implantados, que tinha o objetivo de transformar os produtores familiares em verdadeiros empresários agrícolas, sendo aos mesmos apresentada a produção com vista a escala comercial. A produção mais uma vez aumentou, porém alguns problemas começaram a aparecer, quando surgiram elementos inviabilizadores da devida agregação de valor aos produtos.

Então vejamos: Nossa fronteira agrícola vive este momento de crescimento com mais intensidade, através do agronegócio, pois ultrapassaram alguns obstáculos, que ainda são presentes de forma pertinente para o pequeno produtor, gerando um inevitável conflito ideológico, que em muitos casos se apresenta de forma salutar.

O sistema agroprodutivo da produção familiar precisa urgentemente se configurar alicerçado em cadeias e arranjos produtivos consolidados. Neste sentido, constata-se que na própria denominação e respectiva atuação, as "cadeias produtivas" não cumprem seu papel, pois ao invés de se aduzirem em sua forma de atuação através de vários elos em uma só cadeia, se apresentam como uma só cadeia de apenas um elo, pois somente a produção se faz presente, e traz a tona toda a problemática que os demais elos (beneficiamento e comercialização) sejam trabalhados de maneira harmônica e eficaz, com o real objetivo de agregação de valor ao produto, onde o "atravessador" não seja mais ator, e sim intruso.

Como obstáculos do desenvolvimento do sistema agroprodutivo familiar , dentre vários podemos citar: a insegurança na questão fundiária, a não adesão e periodicidade do homem do campo a cadeia produtiva ideal, a que lhe traga a satisfação e segurança necessárias de manutenção, e não a de conveniência;ausência de políticas que visam inserir em seu seio ações que consolidem os arranjos produtivos. Para que tudo isso ocorra o poder público através de órgãos fomentadores da política agrícola precisam ser mais eficientes, não somente no fornecimento de crédito, muitas vezes pessoal, e que ao contrário do que se espera se tem um resultado coletivo insatisfatório. É preciso que de imediato se eleve a autoestima do produtor, mantendo-o fixado em sua cadeia produtiva, evitando migrações que na maioria das vezes são deletérias ao sistema.

Para se obter êxito, a assistência técnica, extensão rural, pesquisa e defesa agropecuária deverão responder efetivamente, compartilhando responsabilidades, que venham a promover os devidos planejamentos estratégicos; que se elenque as diretrizes ; que o desenvolvimento produtivo seja a prioridade, sempre embasado na racionalidade técnica operacional, que deverá está aliada a critérios qualitativos, lógico que não esquecendo o quantitativo, e dando o sustentáculo para a segurança sanitária de nossos produtos ao consumidor.

Com uma produção a princípio consolidada, é preciso emergir o que hoje falta dentro das cadeias produtivas, mecanismos efetivos e regulamentadores de beneficiamento, que vão desde as boas práticas de produção da matéria-prima e de fabricação, muitas vezes confundidas com produção em escala industrial, que são regidas por legislações que na maioria das vezes inviabilizam essa consolidação; e de comercialização efetiva com os aspectos balizadores de mercado, e assim será obtida a união dos elos da cadeia com vista à revitalização e sua posterior consolidação.

Através do argumento de poder se produzir em massa foi esquecido o poder de se trabalhar no todo, que dentre outros objetivos visa ratificar a aptidão de nossa gente no sistema, além de criar formas de atuação eficazes, que tenham por objetivo, a capacidade de dirimir as dúvidas e carências técnicas tão presentes no meio.

Raimundo José Mendes Silva

Médico Veterinário/ Fiscal Estadual AgropecuárioEx-Secretário de Estado do Desenvolvimento Rural do Piauí
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