DE OLHO NA LÍNGUA- Dicas de português do Professo Antonio da Costa de Sobral-CE- Material de domingo, 14/01/2018



Pode haver epidemia de aftosa?

De que jeito? Se epidemia traz o radical grego “demo” (povo), como pode haver epidemia de aftosa, doença própria dos quadrúpedes? Use “epizotia” (zôo = animal) de aftosa. Da mesma forma, não se faz “censo demográfico entre animais”, mas “censo zoográfico”.


Com palavras no plural, uso “a ser” ou “a serem”?

Do jeito que achar melhor. Exs.: Os presidentes definirão os objetivos a ser (ou a serem) alcançados; As crianças a ser (ou a serem) matriculadas chegaram a duzentas; O secretário se viu praticamente impossibilitado de agilizar o andamento dos decretos a ser (ou a serem) assinados pelo governador.

Isso vale também para a negação: Todos beberam, a não ser (ou a não serem) os policiais; Ninguém ficou bêbado (ou bêbedo) a não ser (ou a não sermos nós.


É verdade que o verbo rigorosamente correto é “agilitar” e não “agilizar”?

É verdade. Embora agilizar já esteja consagrado. Hoje, todavia, se pedirmos que alguém agilite um processo, certamente seremos olhados de esguelha. Injustamente, mas seremos olhados de esguelha. É a evolução...


“De esguelha” ou “de esgueia”?
De esguelha, evidentemente, ainda que muitos prefiram olhar de esgueia e até de esgueio, como já ouvimos. Ninguém abre um “taio” no dedo, mas, sim, um talho no dedo. É comum haver a troca de “lhe” por um “i”: paiaço, véio, paia, etc. Trata-se de influência africana.


Uma emissora afiliada da Globo?

Pode, sim. Já que existem as formas afiliar e filiar, que propiciam as derivadas afiliada, afiliação, filiada, filiação.


Alocução é: “em que pese” ou “em que peses a”?

Está claro que é “em que pese a”, equivalente de “apesar de”. Se é uma locução prepositiva, como pode terminar a não ser por uma proposição?

Só os “artistas” do jornalismo atual podem conceber isso. É rigorosamente o mesmo que conceber um automóvel sem rodas. Use sempre: Em que pese ao mau tempo, viajamos (e não: Em que pese o mau tempo...); Em que pese ao presidente ter declarado isso, poucos acreditam (e não: Em que pese o presidente...); Em que pese à tempestade, viajamos (E não: Em que pese a tempestade); Em que pese à incompetência generalizada, vamos caminhando (E não: Em que pese a incompetência...).

Muitos, ainda, num rasgo de necessidade lingüística, fazem variar a expressão. Veja: Em que pesem as críticas atuais, a dívida externa contribui para o progresso do país (Folha de São Paulo).

Embora o povo diga “pézi”, o elemento “pese” não vem do verbo “pesar” (avaliar o peso), mas de “pesar” (ter pesar, ter tristeza), que é da mesma família de “pêsames”. Sendo assim, o tônico deveria ser fechado (ê) e não aberto (é). O povo, contudo, já suficientemente familiarizado com a pronúncia do outro verbo, optou por dizer o elemento “pese” desta forma: “pézi” (Em que pese a todas as evidências em contrário).


(*) Graduado em Letras Plenas, com Especialização em Língua Portuguesa e Literatura, na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). É, também, funcionário do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Sobral (CE). Contatos:  (088) 99762-2542.


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