Saulo Dugado fala sobre perda do colega Cizinho do Forró Bandido: "a gente perde um grande cantor"

Cantor Saulo Dugado falou com exclusividade ao Elesbão News
Por José Loiola Neto


Ao comentar a perda do amigo Cizinho do Forró Bandido, que morreu em decorrência de uma parada cardiorrespiratória durante a tarde da última segunda-feira(23/7/18) no Hospital do Monte Castelo em Teresina, o cantor Saulo Dugado disse que ao mesmo tempo em que foi pego de surpresa, já era também de certa forma esperado, sobretudo em razão do estado de obesidade mórbida que Cizinho se encontrava, além disso o fumo em excesso pode ter contribuído para o problema. Saulo disse em entrevista ao Elesbão News que infelizmente o amigo foi se matando aos poucos, considerando que os problemas de saúde do músico paraibano foram surgindo no dia a dia.

- Eu sempre ia a casa dele e a gente percebia aquela falta de ar, a gente via que nos shows ele não estava mais com aquele desempenho de antes, a gente via que a vida dele era comer e ir para o quarto deitar e ficar fumando. Ele ganhou a cirurgia bariátrica, mas com 180kg ele não tinha como fazer essa cirurgia, ele tinha que perder pelo menos entre 20 e 30kg e ele não estava conseguindo, o Cizinho foi se entregando aos poucos.

Saulo recordou que Cizinho foi o primeiro cantor da sua banda, isso no início da carreira. Paraibano Cizinho chegou ao Piauí no começo dos anos 2000, e acompanhou Saulo em tour por São Paulo.

- A gente fez uma turnê em São Paulo, mas foi na época que o Frank Aguiar me apadrinhou, então ele veio embora, retornou à Teresina, começou no Forró de Candeeiro, depois com Forró Diluxo, dai pra frente ele fez a história dele.
Cizinho faleceu aos 45 anos em Teresina

Nascido em Queimadas-PB, Cizinho fez do Piauí o seu estado e Teresina como terra sua, prova disto é que há mais de 10 anos não visitava sua terra natal, onde tinha uma filha, alguns irmãos na Paraíba e outros no Rio de Janeiro. Na opinião de Saulo Dugado, Cizinho era um produtor e recordou que seus dois últimos trabalhos foram gravados no estúdio dele. Lembrou também da afinidade que tinha com o músico, conhecido por suas aparições em festas de vaquejada no Piauí e estados próximos como Ceará e Maranhão.

- Inclusive nesse meu novo trabalho foi ele quem colocou vocais, percussão. Estava em constante contato com ele, a gente sempre se encontrava, se falava, é um cara que vai ficar no coração, pra mim não vai morre nunca.


BASTIDORES DA MORTE DE CIZINHO

Saulo contou na entrevista que nos últimos dias vem preparando a realização de um show de comemoração de 20 anos de carreira musical, previsto para acontecer no Theatro 4 de Setembro em 13 de agosto próximo. Segundo ele o show marcará o reinicio da sua turnê, interrompida em face o incidente verificado no último mês de maio, quando ele foi alvejado por um disparo de arma de fogo desferido por um ex-policial após desentendimento entre ambos no interior de uma panificadora localizada na Zona Leste da capital. Acrescentou que o produtor do Cizinho, Arilson Produções vem ajudando na produção do show, sendo que naquele dia, por volta das 17h ligou para ele e o que ouviu não foi nada animador.

- Ele me contou que estava no Hospital do Monte Castelo, pois o Cizinho estava ali muito mal. Dai eu corri para lá.
Cantor Saulo do Gado falou a respeito da morte de Cizinho do Forró Bandido
Cizinho havia marcado consulta com um cardiologista para aquela tardem sendo que iria acompanhado do seu empresário-- Luis Henrique Magrão, este no final do dia, começo da tarde ainda se encontrava em Água Branca; antes de retornar à Teresina ligou para Cizinho e percebeu uma intensa falta de ar e dificuldade em falar, por isso achou por bem ligar para o Arilson, tendo em vista agilizar a ida de Cizinho a um hospital.

Saulo lembrou que Cizinho morava com um cantor da banda de nome Gil e um rapaz chamado Joaquim, amigo pessoal de cantor. Um rapaz de nome Kaká, que também trabalhava com Cizinho foi buscá-lo e o levou até o Hospital do Monte Castelo, sendo que conforme relato saiu bem, conversando, caminhando e fumando, como sempre fazia.

- Eu nunca vi o Cizinho entrar dentro de um carro sem antes dá uma última tragada em um cigarro. Ele chegou ao hospital com uma carteira de cigarro, uma certa quantia em dinheiro, o cartão do SUS, ele não tinha plano(de saúde) e a identidade(RG), ele fez a ficha dele consciente, mas tinha uma falta de ar, entrou na sala de estabilização, depois que os médicos foram lá pra cima ai eu não entendo mais o que aconteceu porque ele morreu tão rápido porque era só enfermeira saindo e justificando que ele não estava mais absorvendo.

Saulo disse que não apenas ele, mas outros amigos de profissão davam conselhos para ele reduzir o fumo e adotar novos hábitos, como a prática da caminhada, com vista a melhorar a qualidade de vida, a reação, no entanto não era satisfatória. A teimosia era maior. No hospital, durante conversa informal com uma enfermeira ficou sabendo que os pulmões de Cizinho não estavam mais absorvendo ar, devido a isso, o organismo estava produzindo ar, dessa maneira tentaram outros procedimentos, infelizmente sem sucesso.

- Tentaram entubar ele, mas não acharam a traqueia devido o excesso de gordura. O Cizinho pesava 186 kg.

Para o sanfoneiro Saulo Dugado, o Hospital do Monte Castelo não tem muito recurso(estrutura), por isso cogitou a possibilidade de transferir Cizinho para outra unidade de saúde, porém ele esbarrou em regras para tal procedimento, uma delas, o real estado de saúde do paciente, nesse particular, os dois estabelecimentos de saúde entram em consenso com relação as condições do paciente, se era risco ou não transferi-lo.

- No caso do Cizinho eles diziam: é risco, não vamos levar, só que eu já estava disposto a assinar um termo de responsabilidade, colocar ele dentro do carro e levar porque lá não havia recurso. Não que a equipe médica não tenham feito nada, eles fizeram tudo o que podiam, se empenharam, mas esbarraram na falta de estrutura. Eu faço o curso de Direito e eu sei que só quem pode assinar um termo de responsabilidade é um membro da família e a partir do momento que ele entrou no hospital, a tutela é do hospital, e se de repente eu assinasse esse termo e porventura ele morresse dentro do carro, a família podia entrar com um processo contra mim.

Saulo concluiu comentando a respeito da participação sua no ato fúnebre em favor de Cizinho, muitos colegas da música estiveram no velório e sepultamento para prestar homenagem, cantar e dá o último adeus. Para Saulo a morte de Cizinho foi uma perda para música e cultura, na medida em que ele fez toda sua carreira e construiu sua história no Piauí e em Teresina, se apresentava nos estados circunvizinhos levando forró e vaquejada, cantando canções que muito tem a ver com o Nordeste.

- A gente perde um grande cantor, um amante da vaquejada, o forró tá de luto, eu acompanhei detalhe por detalhe, inclusive fui eu que levei a roupa dele, ajudei a organizar tudo.

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