Dr Pedro Cardoso da Costa |
Cada profissão tem seu pilar de sustentação. O
de uma equipe de desportistas competidores é vencer. Já individualmente o de
cada atleta é buscar ser o melhor, o Neymar, o Messi, o Federer. Mas o
exercício de cada profissão requer permanente aperfeiçoamento técnico e ético.
No jornalismo, o ideal de
uma revista é ser a mais vendida, o jornal mais lido do seu país, quando não se
consegue voos mais altos. No campo ético da profissão de jornalismo ou de
informação a principal virtude difundida é a imparcialidade. Uma cobertura sem
lado, apenas do lado da verdade. Um engodo, tanto para si quando para todos.
Jornalismo é feito por gente, e pessoas têm suas preferências.
Tudo no mundo tem um lado
e o do jornalismo deveria ser explícito, sem subterfúgios e bem definido.
Afinal, os valores são criados e sustentados pela sociedade. Num assalto, de um
lado tem uma pessoa que entregou o que ganhou justamente para preservar a vida;
do outro uma pessoa querendo o objeto ou a vida. Na cobertura de um assalto,
fica muito claro de que lado está a imprensa. O fortalecimento das organizações
criminosas começa a turvar a vista da imprensa. Hoje, amaciam primeiro ao
colocar a culpa no sistema, na sociedade, para só depois responsabilizarem os
delinquentes.
Nem o tempo escapa de ter
um lado. Os inovadores são chamados de progressistas, aqueles que vão se
adaptando e incorporando naturalmente os denominados avanços sociais e
tecnológicos. São as pessoas do seu tempo no vestir-se, na linguagem, no corte
do cobelo. Os conservadores são retrógrados, não se adaptam fácil ao modernismo.
O erro vem no entendimento do conceito. Os “progressistas” saem de uma partida
de futebol quebrando tudo, nem museus preservam, por ser coisa de
“conservador”. No fim de semana não deixam ninguém ouvir nada com suas máquinas
do barulho. Os conservadores se tolhem, afinal por definição conceitual são
seres inferiores.
No jornalismo, ser
progressista é não se posicionar sobre nenhum tema, nenhum acontecimento. Seria
a decantada imparcialidade. Definitivamente, em determinados assuntos a
imparcialidade chega a ser perversa, um mal por si. A sociedade segue seus
formadores de opinião nesse vazio de ideias e de valores.
Nessa linha de
raciocínio, a cobertura do mensalão foi o exemplo mais recente de falta de
norte da imprensa nacional. Até o início do julgamento o que a imprensa
brasileira mais cobrava era uma justiça que alcançasse a todos. Pura fachada
para reafirmar sua posição de que justiça deveria mesmo continuar alcançando
apenas os de sempre, os pobres, mais atingidos nas suas espécies negros e
prostitutas.
Começaram por misturar
justiça e política. Não seria o momento ideal para iniciar o julgamento, como
se o calendário do Judiciário tivesse que seguir cartilha de políticos, seja
para que lado fosse.
Ao perceberem que haveria
condenação, escancarou-se a quem a imprensa efetivamente defendia, liderada
pelo jornal Folha de S.Paulo e seu jornalista Janio de Freitas. Não que
estivessem errados em ter uma preferência, equivocada foi a opção. Afinal, o
Brasil tem que defender uma justiça para punir atos delituosos, independente
dos agentes, e essa, até então, era a posição decantada por todo o jornalismo.
Mas a imprensa nacional
precisa adotar posicionamentos claros sobre determinados assuntos e
acontecimentos. O tanto faz não se aplica ao voto obrigatório, ao mandato
vitalício de dirigentes das entidades esportivas, ao escandaloso número de
cargos comissionados. Também tem que haver clareza quanto à péssima qualidade
do ensino, sobre o enriquecimento meteórico de políticos, sem nenhuma interferência
ou questionamento dos órgãos de fiscalização. É o caso do mais novo milionário
em 4 anos, o futuro presidente da Câmara dos Deputados, cuja moral
administrativa permitiu que o dinheiro de suas emendas fosse parar no bolso de
um de seus assessores. Já o provável presidente do Senado num país minimamente
sério não ocuparia nenhuma função pública.
Teria muito mais citações
sobre circunstâncias que o jornalismo deveria tomar partido. Mas a imprensa age
como o brasileiro comum, que faria tudo no lugar do outro; do outro... Faria
isso ou aquilo se fosse jornalista, se fosse político, se fosse policial, se
fosse presidente... Se não fosse um jornalismo tão imparcial, o povo talvez não
se... perdesse tanto.
Pedro Cardoso da Costa –
Interlagos/SP
Bel. Direito
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