EXCLUSIVO!- Dr Jesuito Dantas narra suas dificuldades para chegar a faculdade de medicina, diz que precisou vencer doença na juventude, demonstra decepção com a política e revela que teve depressão porque parou de trabalhar: " infartei, tive derrame cerebral". Confira!

 
Dr Jesuito Dantas está com 81 anos

Por José Loiola Neto/Destaques de Elesbão

De passagem por Elesbão Veloso nessa última quinta-feira(04.01.2018), quando fez singela visita a minha avó, dona Maristela Teixeira, pessoa que ele conhece desde a sua juventude e que nutre um carinho até hoje, o médico Jesuito Soares Dantas(81) falou ao quadro Perfil do Painel Popular/FM Eldorado(o mais completo jornal do rádio) e ainda que de forma lacônica entre um tema e outro, dado o tempo que se avançava e ele tinha compromissos a cumprir naquela manhã, abordou alguns assuntos inerentes não apenas a vida profissional, mas pessoal, quando assumiu que enfrentou uma crise depressiva.

Antes de partir em busca do sucesso profissional, vindo a se tornar médico, Dr Jesuito viveu grande parte da sua infância na localidade Boqueirão, área rural do então Povoado Coroatá(mais tarde Elesbão Veloso). Foi ali que ainda criança, com apenas cinco anos, cuidava dos animais.

- Botava as vacas para o curral e separava juntamente com meu irmão Lucrécio que era um grande sofredor. Quando terminávamos aquele serviço íamos para a roça trabalhar de enxada, lá brocava, cercava, plantava, limpava e colhia juntamente com três a quatro ajudantes.
Dr Jesuito Dantas falou sobre sua vida ao Perfil do Painel Popular
Em março de 1955, Dr Jesuito sofreu em decorrência de uma apendicite, que lhe fez permanecer por 59 dias internado. O problema se agravou a ponto de o abscesso da alça intestinal estourar e drenar pelo reto. A recuperação aconteceu, a partir daí foi seduzido pelo farmacêutico e ex-prefeito de Elesbão Veloso, senhor Enéas Nogueira que o convenceu a estudar.

- Não queria estudar porque eu já estava com 19 anos de idade. Antes disso havia aprendido apenas as sílabas, o ABC e eu já escrevia meu nome com dificuldade na escola do Velho Salú. Tive como professores os senhores Beni e Enéas e Drª Yoná, que tinha muita didática e eu consegui ter domínio sob o curso primário em um ano. Foi difícil, fiz o curso de admissão, passei, fui aprovado, passei em primeiro lugar, fui bastante homenageado, ganhei bolsa de estudo e isso me estimulou a buscar um curso.

Um dos filhos do casal Luis Dantas e Adélia(ambos in memória), Dr Jesuito Dantas, ginecologista e obstetra com formação obtida no Recife-PE, para quem não sabe, muito recentemente lançou um livro, a obra intitulada, a "História de Um Medico", a qual traz uma narrativa em forma de retrospecto da sua vida, recheada de muitas adversidades, sobretudo em se tratando a busca por um espaço no campo profissional numa época de intensas dificuldades. Uma delas, a carestia do material, um entrave constante, para exemplificar lembrou que se um livro para outra área de formação custasse R$ 100,00 para medicina chegava a custar R$ 800,00 a 1.000,00.

- Lembro muito bem que não tinha recursos suficientes, e nem meu pai que já estava um pouco envelhecido. O que ele vendia era para manter uma família muito grande de 8 filhos e mais 3 que ele criou e precisava manter todo mundo e ainda pagar meus estudos.
Dr Edmilson Dantas em entrevista a Eldorado FM
Na jornada de estudos para obtenção do canudo e consequentemente a formação profissional Jesuito considera que viveu um misto de acontecimentos: sorte, preocupação, oportunidade, beneficio e sofrimento.

- A minha opção pela medicina foi na verdade uma brincadeira. Passei em primeiro lugar na minha turma, aos 19 anos, quando fiz o primário, daí recebi uma bolsa de estudo do Benoni, foi ai que me transferi para o Colégio Diocesano. Lembro que lá os padres Jesuítas faziam a seguinte pergunta para seus alunos: vocês vão estudar o que?, e a maioria respondia- engenharia, direito e eu não sabia o que faria porque não tinha condição, nem noção e grandeza de reconhecer as responsabilidades. Por brincadeira disse que faria medicina, não que esperasse fazer, porque eu queria na verdade passar em um concurso para trabalhar porque não tinha condição de estudar.

A respeito da motivação para escrever o livro, Dr Jesuito disse que se não tivesse tido a atitude não seria conhecido, na medida em que, nem mesmo os seus familiares sabiam o sacrifício o qual passou para chegar até a faculdade de medicina.

- A luta foi árdua e foi muito preocupante, faltava tudo, e para se formar em medicina precisa ter base financeira e eu não tinha. Aquela época era tudo muito mais difícil que agora. Hoje, temos tudo e reclamamos de tudo. Estamos querendo mais do que merecemos.
Dr Jesuito com a esposa dona Mirian: 46 anos de casados e três filhos
A formação foi bem recebida pelos pais, em que pese o fato deles terem à época uma ideia de que "a pessoa que estudava, quando voltava sabido, não queria mais trabalhar, e ia viver só na malandragem".

- Isso eu ouvir. O meu pai sabia ler e escrever, ele teve acesso a educação. A minha mãe era analfabeta. Eles só colocaram os filhos para estudar depois de adulto. Papai contratou uma professora por um ano para ficar só orientando. Ficou eu, Lucrécio e Socorro sem orientação nenhuma, foi quando viemos para cá, frequentamos a Escola do Velho Salu, que foi embora logo, antes mesmo de eu aprender, adoeci, motivo que o fez a estudar a uma pessoa que devo tudo: Dr Enéas Nogueira, por quem tenho tamanha afeição

Na entrevista ao Painel Popular, o experiente médico recordou também traumas vividos num passado não muito distante, algo que se deu assim que se afastou de suas funções laborais. A falta diária do bisturi contribuiu para o surgimento de alguns males, depois que se aposentou.

- Com 70 anos me aposentaram, por isso tive depressão, infartei, tive derrame cerebral em consequência de ter me afastado daquilo que eu mais desejava e que mais eu gostava que para mim era um prazer e honra fazer cirurgias e salvar aquelas pessoas que estavam sob ameaça de morte.
Dr Edmilson com dona Maristela Teixeira: amizade de longas datas
Quando indagado se deixou a profissão com a sensação do dever cumprido, Dr Jesuíto Dantas foi enfático em dizer que gostaria muito de ainda estar na ativa e que por uma razão outra traz consigo um certo arrependimento.

- Não sai satisfeito porque gostaria de ainda está fazendo. Estou com 81 anos e gostaria de está operando, fazendo cirurgia. Infelizmente a lei não permite e eu não me preparei, não tive essa previsão de fazer como outros colegas que ficaram com a clínica aberta atendendo todo mundo de graça e o povo pensando que era pelo SUS, mas na verdade, tudo era de graça. Tive colega que fez isso e eu não tive essa imaginação. Infelizmente perdi essa oportunidade.

No tocante à política, o médico tem um olhar tosco, tanto que não titubeia ao classificá-la, diz que não gosta na verdade detesta porque é um meio para "políticos espertalhões" levarem vantagens em cima de pessoas inocentes.

- É a maneira como eu vejo. Muitos estão ai para levar vantagem, se tornar poderoso e a gente ficando exclusivamente a trabalhar e pagar impostos para sustentar esse grupo de pessoas que vive muito bem, não sei se feliz porque hoje estamos vendo o que a Lava Jato está fazendo.

Dono de várias propriedades na zona rural de Elesbão Veloso, se pudesse voltar ao tempo abdicaria de tudo porque segundo ele: "ter propriedades é ter problemas e na velhice não é coisa boa", contudo é necessário estar se dividindo entre Teresina, onde mora e Elesbão Veloso, onde estão parte dos seus negócios.

- Em Teresina moro e no momento tenho me dedicado a escrever e aqui tenho deveres a cumprir.

Casado há 46 anos com a enfermeira cearense Mirian Montoril com quem tem três filhos, todos com formação profissional, Dr Jesuito projeta para os próximos anos uma atuação literária, quer se dedicar a escrever com foco a distribuir o seu valioso material para bibliotecas públicas.

- Estou colocando esse livro em todos os lugares para que as pessoas possam conhecer e saber sobre a minha vida e as dificuldades e que vale a pena a gente se formar naquilo que a gente gosta, deseja e tem vocação. No momento estou escrevendo. Depois que parei de trabalhar bateu uma depressão e eu tenho procurado escrever. Escrevi bastante coisas-- descontentamentos, porque não existe nenhuma pessoa na vida que esteja contente.
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